Acompanhe aqui os debates sobre políticas culturais, divulgação/resulados de editais, projetos e eventos que acontecem nos municípios que fazem parte do Território Velho Chico - Bahia.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Folia de Reis faz resgate cultural - Brotas de Macaúbas
Grupo Cayam-Bola destaca antigos reiseiros Zé Raimundo e Lalu e anima as noites em Brotas de Macaúbas
Depois de quase três décadas, a folia de Reis está de volta às ruas de Brotas de Macaúbas, resgate feito pelo recém-criado Grupo Cultural Cayam-Bola e que vem recebendo grande apoio da população. Este ano o grupo optou por trazer uma mistura dos reisados de Zé Raimundo e Lalu, dois dos mais tradicionais representantes da folia negra do município. Chama a atenção da Burrinha, criação de Zé Raimundo e que há quase 70 anos não aparecia e que rouba a cena com o desempenho de Marcos Roberto, bisneto de Lalu que arranca aplausos por onde passa.
O resgate desta que é uma das maiores, mais belas e ricas manifestações culturais da Chapada Diamantina em Brotas de Macaúbas apresenta músicas que continuam vivas no imaginário popular, com o tradicional samba de roda Catarina Balaio de Fulô, retirado do Reis de Lalu que com a canção homenageava a mulher, Catarina. Outro destaque do reisado em Brotas vai para Preta, filha de Lalu e Catarina que, mesmo sendo hoje de religião evangélica, se rendeu aos encantos do reisado.
O Grupo Cultural Cayam-Bola utiliza instrumentos de percussão e agrega a sanfona de Mestre Noé. O desfile do Reis pelas ruas arrasta o povo e a cada dia vai a um ponto diferente da cidade. O integrantes cantam o reisado tradicional de Lalu que diz num dos versos que “vai chegando em vossa porta/Os três reis do Oriente/Visitar Menino Deus/Que nos ama docemente”. A cantoria segue com os tradicionais mimos, com que são saudadas as pessoas visitadas. O ritual prossegue com a reza da Lapinha (presépio) e os brincantes caem na folia, usando uma das mais importantes matrizes do samba rural.
“Olha o gato do mato, pegou e segurou/Tá com medo do gato, segura que eu vou/Ô lelê seguira a moenda/Ô lelê a moenda virou”, diz uma das letras, lembrando o trabalho escravo nos canaviais. Tudo com muita alegria e entusiasmo, principalmente quando é cantada a música Rodou Piranha, que pede para que se ponha a mão na cabeça, na cintura e que, com uma umbigada, se jogue outra pessoa na roda.
Outro destaque musical é o “pisa-pisa no caroço da pitomba/você toma o amor dos outros/mas o meu você não toma/mas se tomar eu vou buscar/pisa-pisa no caroço do juá”. A folia termina com “Serra meu baralho”, onde os cantadores jogam versos, geralmente engraçados, brincando com os presentes. Antes de partir para outro canto, canta-se o verso que marca os dois reiseiros homenageados – Lalu e Zé Raimundo: “Já cantei, já recantei/Não sei se cantemo bem/Se não cantemo a seu gosto/Deixa pro ano que vem”.
AUTOESTIMA ELEVADA
O Terno de Reis este ano optou por visitar apenas algumas casas, aquelas que agendaram previamente. Mas foi nas ruas, na passagem da Burrinha e dos cantadores e sambadores, que o evento chamou a atenção. A cada apresentação, o número de seguidores aumentava. As fotos postadas na internet também chamaram a atenção de brotenses residentes em outras cidades e até de outros países. Da Suíça, onde mora, Maria Lúcia dos Santos-Daeppen se diz encantada com o que está acompanhando através da internet.
Já Neuza Araújo, que reside nos Estados Unidos, por telefone, acredita que “resgates como esses são importantes para elevar a autoestima da população, especialmente daquela mais humilde, de onde a folia de Reis tem sua origem em nossa cidade”, Funcionária da Secretaria Estadual da Fazenda, Zilca Lenira Oliveira Campos, que reside em Salvador, também destacou “o belo trabalho de resgate das nossas tradições culturais”!
De São Paulo, a professora Eliran Oliveira destaca que “todo o descaso vivido pelo nosso município durante muitas décadas, não foi e nunca será motivo para desanimarmos, pois sempre surgirão pessoas e/ou grupos que, com talento e carinho, traz e resgata a riqueza cultural que faz parte do nosso povo e da nossa história”.
Várias manifestações de apoio ao regate cultural do resisado estão acontecendo em Brotas. O comerciante Noé Martins se disse encantado com a iniciativa e que já participou o fato ao seu amigo José Rosa, hoje residente em Camaçari. As famílias de Lalu e Zé Raimundo também marcaram presença no Terno de Reis, a exemplo da filha e da neta de Lalu, Preta e Neguinha, respectivamente. Do alto de seus 103, dona Chiquinha – parente de Zé Raimundo - recebeu a folia e, mesmo de cama, bateu palmas e festejou. Com lágrimas nos olhos, agradeceu pelo resgate, lembrando que fazia muito tempo que a Burrinha não saia nas ruas. Outro a se se manifestar foi Tadeu Viana, mostrando-se feliz e lembrando de suas origens na antiga Rua do Lagedinho e dos antigos reiseiros, como Zé Raimundo e seu filho Tota, Zé Bento e Lalu.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário