O projeto baiano Uma leitura da cultura negra riachense é motivo de orgulho para o Município de Riacho de Santana (a 720 km de Salvador), especialmente para as dez comunidades quilombolas da região. Desenvolvido com estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Sinésio Costa, o projeto nasceu para sistematizar as atividades já realizadas pelos professores, antes mesmo da implementação da lei nº 10.369/2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira.
Segundo a professora de língua portuguesa, Tatyana Di Lissandra Magalhães, hoje, cinco anos depois de iniciados os trabalhos, “o projeto está plenamente incorporado à matriz curricular e ao ensino da História e Cultura Afro-Brasileira perpassa os conteúdos das diversas disciplinas, trazendo resultados significativos em relação à postura dos estudantes”.
Tatyana explica que Uma leitura da cultura negra riachense casou dois aspectos que eram evidentes na comunidade estudantil: a falta de leitura e as questões étnico-raciais. “Nós temos uma quantidade representativa de estudantes quilombolas e temos estudantes não quilombolas também. A desconstrução do preconceito implica o trabalho com os dois públicos e a leitura dos clássicos da nossa literatura que abordam a temática tem sido uma ferramenta eficaz”, lembra a professora.
A leitura, no colégio de Riacho de Santana, passou, então, a ser valorizada por todas as áreas do conhecimento, inclusive como sustentáculo para o aprendizado que engloba a perspectiva étnico-racial. E os estudantes estão percebendo que o preconceito, apesar de ter um caráter histórico, pode e deve ser desarticulado. “Não dá para ser da noite para o dia, mas a gente tem conseguido minimizar as atitudes preconceituosas”, comemora Tatyana Di Lissandra.
Para Débora Alves da Silva, de 16 anos, as experiências vividas na sala de aula e fora dela não poderiam ser melhores. “É muito interessante, a gente passou a conhecer a nossa própria cultura. Se antes a nossa referência de cultura negra, por exemplo, eram os negros do Pelourinho e de Porto Seguro, agora nos percebemos as comunidades quilombolas do nosso município”, conta a adolescente. Débora diz que, na sua turma do 2º ano do ensino médio, a mistura de origens ajuda bastante nos estudos: “há pessoas de origem negra, italiana, indígena, portuguesa, há também colegas que vêm de outros estados e isso acaba somando, porque a gente aprende sobre cada cultura em nossas casas, como os avós e divide tudo na sala”.
As conquistas dos estudantes do Colégio Estadual Sinésio da Costa são externadas por eles próprios, que passaram a interferir diretamente na rotina dos habitantes da região. “Grupos culturais, formados pelos alunos, atuam nas comunidades quilombolas e modificam o olhar social das pessoas sobre elas mesmas”, orgulha-se a professora Tatyana, ressaltando que, na maioria das vezes, promover o resgate da autoestima é o maior objetivo dos estudantes.
Débora confirma que esses contatos com as comunidades quilombolas são mesmo muito proveitosos e resultam em uma troca de conhecimentos. Ela destaca a visita de grupos teatrais, oriundos dessas comunidades, à escola, como um dos pontos mais positivos. A adolescente se diz impressionada de ver como uma coisa que é tão próxima, parecia tão distante. “Agora a gente estuda a nossa arte, a nossa geografia, a gente se vê em quase todas as matérias”, finaliza a estudante.
Prêmios – Uma leitura da cultura negra riachense recebeu, em 2007, o prêmio Construindo a nação, do Sesi, e é um dos sete projetos brasileiros que estão participando, em 2010, do programa A cor da cultura, do Canal Futura.
Rio das Rãs – Para desenvolver o projeto Uma leitura da cultura negra riachense, os professores do Colégio Estadual Sinésio Costa, de Riacho de Santana, se inspiraram em um trabalho que já vinha sendo desenvolvido na comunidade quilombola Rio das Rãs, localizada no município vizinho – Bom Jesus da Lapa (a 796 km da capital).
O Projeto Rio das Rãs: origem, cultura e resistência numa comunidade quilombola, coordenado, inicialmente, pela professora Tatyana Di Lissandra, no Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, já foi premiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – Unesco, em 2002, e pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), em 2004.
Como acontece em Riacho de Santana, o projeto continua conseguindo desenvolver, em Rio das Rãs, o senso de pertinência pessoal e coletivo e segue ajudando na formação da identidade, o que proporciona aos estudantes o conhecimento e o reconhecimento do legado cultural das suas regiões.
Fonte: http://www.educacao.estudantes.ba.gov.br/node/1108
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